sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pupilas dilatadas


Hoje tive minhas pupilas dilatadas. Não, nada de substâncias psicoativas circulando.
Tem pessoas que vivem de pupilas dilatadas. Não vêem nada à luz. O cômodo é estar sob sombras.
Mas esse buraco negro dos olhos pode engoli-las.
Não quero dilatar minhas pupilas fora dos consultórios de Oftalmologia.
Elas, as pupilas, nos protegem dos excessos e das faltas, de luz. Afinal, não toleramos ver tudo.
Não manipulemos nossas pupilas. Deixemos a sabedoria delas agir por si só. Não nos escondamos da luz.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Desapego

Quando eu deixei de odiar vc? Nunca odiei vc - disse ela com uma frieza dissimulada.
Travesti meu amor com uma roupagem mais confortável, a roupa dos desprezados.
Fingindo para mim que odeio vc, me encho de uma coragem fenomenal ou me esvazio do medo avassalador de não ter mais vc.
Porque desapegar-me de vc é desistir do que há de melhor em mim. E não toleraria isso. Isso me mataria. Viraria um zumbi ambulante.
Se não vai voltar para mim, deixe que eu continue odiando vc e viva, sobreviva.

domingo, 26 de julho de 2009

Molhos, pimentas...


O mercado público de Vancouver expõe molhos, muitos molhos, ervas, condimentos variados, mas vendedores doces e atenciosos.
Quem imaginaria que esse povo de inverno rigoroso gosta tanto de molhos apimentados, e pimenta moída. Tudo vai com pimenta do reino moída! Inusitados, esses canadenses... Será que os mexicanos, os indianos e os baianos estão contra a corrente? Afinal, comida "quente" e cultura acolhedora esquentam. E quem precisa de mais calor vivendo ao sol de fundir a cachola? Deixa o gosto ardido aquecer a língua dos canadenses...

sábado, 25 de julho de 2009

A mentira...

Voltando às relações de troca, só são ruins quando se tem espírito de Madre Tereza e se quer só dar, sem receber, ou quando se tem algum traço psicopático (ou sociopático) e se quer só receber, sem dar. Sim, precisamos dos outros até, e principalmente, para nos construir e criar a nossa própria identidade. O outro é o principal parâmetro de nós mesmos hoje e do “nós” que queremos ser. Por exemplo, eu detesto gente preocupada demais comigo, viu LP? Sabe aquele tipo de pessoa que sempre pede “desculpa” quando nada fez para se desculpar. Aquela amiga que fica se perguntando se o que fez é bom para mim: eu quero comer pizza de aliche, mas se você não gostar eu posso comer a de queijo. Eu sou alérgica, mas posso tomar meu “Polaramine” depois. Isso é uma pessoa boa? Isso é uma pessoa idiota e que acha que sou idiota. Primeiro, se eu não gostar de aliche, eu falarei e pedirei outro sabor ou outra pizza para mim. Segundo, se você comer a pizza de queijo, pode até deixar gravado no celular que eu fui conivente com seu suicídio. Podem até me acusar de homicídio culposo, nesse caso, já que você sabia que estava comendo queijo. Ah, essas pessoas boazinhas, que abrem mão das coisas para nos beneficiar, mais cedo ou mais tarde: vão nos cobrar por aquele ato abnegado, vão comentar com outra pessoa o que fizeram “por nós”, ou, no mínimo, vão usar esse ato como ponto para entrar no céu. Ninguém faz nada de graça... (Olha eu sendo pessimista para alguns, talvez) Há também, os que se utilizam desses atos de doação ou de bondade para justificar viverem na privação financeira ou emocional, são os convenientes resignados ou abnegados.

Abará

O que chama de realidade, considero pessimismo segundo os meus parâmetros na medida em que julga o todo de pessoas ou sociedade por uma parte significativa, mas ainda minoria de pessoas voltadas o suficiente para si a ponto de negligenciar ou prejudicar o vizinho ou o colega e trabalho. Ainda assim, acredito que aquele vizinho que colocou seu lixo à porta de nossa casa é fundamental para a nossa avaliação do mundo. Primeiro, se não o soubermos, dar-nos-emos conta do quanto é desagradável ter o lixo de outrem, com odores desagradáveis dos restos de um desconhecido, à nossa porta. Portanto, só faremos algo semelhante (colocar o lixo na porta de alguém) com dolo, ou seja, com a intenção de magoar ou de agredir. Pois é, um ato “sujo” como esse nos faz mais responsáveis por nossas ações – primeiro ganho, creio eu. Segundo, quando nos mudarmos e tivermos um novo vizinho limpo, asseado e respeitoso, estaremos predispostos a agradá-lo com um bolo de milho nas festas juninas, por exemplo. Afinal, ele poderia, mas não coloca lixo à nossa porta.Por sua vez, o bolo de milho pode fazer com que nosso novo vizinho não dê tanto valor ao fato de que ouvimos ópera aos domingos e ele ache isso o “fim da picada” em termos de gosto musical. Pronto, fomos poupados de um comentário negativo sobre nosso gosto musical. Podem me perguntar e digo: sim, as relações são baseadas em trocas, em conveniência, numa balança dinâmica entre pontos positivos e negativos, ganhos e perdas. As relações saudáveis parecem ter um equilíbrio nessa balança. Isso é ruim? As relações na natureza muitas vezes são assim e estas parecem ser as mais harmônicas já que são regidas de maneira relativamente estável e fixa em um período maior de tempo. Lembram das aulas de Ciências e da relação de comensalismo entre um peixinho que nada com o tubarão e se alimenta de restos de suas presas e ao mesmo tempo limpa seus dentes – bom para um, bom para o outro.

A pimenta...


E, minha querida amiga LP (sem falsidades, já que amo essa moça), não se trata de me incomodar com o que chamou de “realidade” ou de “brincar de Alice”. Primeiro não existe uma “realidade”, existem infinitas realidades possíveis e talvez o número de realidades concretas seja o número de habitantes no mundo num dado segundo. Lembrando que a minha realidade pode se modificar de um segundo para o outro através de uma experiência, em geral envolvendo outra pessoa ou algo produzido por outra pessoa.

O Dendê...

Os outros e as nossas relações são e serão sempre parâmetro para nosso comportamento, nossas emoções e nossas opiniões sobre a vida. Não me refiro obviamente à questão biológica já que o ser humano se constitui no único animal que a natureza privou de instintos suficientes para garantir a vida sem o aprendizado, e portanto sem a presença de outro ser vivo capaz de lhe transmitir algo útil para sobreviver.Refiro-me às questões sociais, comportamentais, cognitivas e especificamente interpessoais. Sim, precisamos dos outros e podemos contar com as pessoas (pelo menos algumas) e, portanto, é imprescindível aprender a viver em sociedade.

E o Erê criou...


Acredito que existe um nível íntimo nosso que é inatingível para as nossas relações humanas, talvez um plano limite entre o espiritual ou divino e o concreto ou humano. Talvez nessa interface sejamos todos sozinhos realmente. Em todos os outros planos, entretanto, estamos acompanhados, bem ou mal, pelo outro e, portanto, não estamos sozinhos. Não vou entrar na questão da vida espiritual ou em outros planetas, pois não seria do escopo desse contraponto, mas poderia...