sábado, 14 de novembro de 2009

Inominado

Fim da linha que nos guia
Foi falar línguas distantes
Se posso te esperar
Ao fim do dia
Como fizemos antes

Entre tempos e momentos errantes
O silêncio nos separa em abismos
Estranho e não reconheço
Nessa pessoa que me fala
A voz que desenhei em sonhos e lembranças
De retratos puídos pelos dias, milhares

Olhares de desconfiança
Do não resgate da história, museus, fotografias rasgadas
As mensagens tortas do desencontro marcado
Por ti. Espero me mostrar mais, esperar mais.
Pois o que não se explica, é sentimento, é sentir muito
É sentir sempre

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esfinge

Conheces o meu reverso, o inverso do meu verso. A revelação do contrário onde me escondo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Despedida

Faz calor em São Paulo.
O noticiário irrompe o silêncio do domingo.
Sim, há uma brasa imensurável sob o asfalto da metrópole fria.
Suamos e o Futuro nos ventila.
Apesar de algo cabisbaixo, o Futuro é capaz de grandes surpresas.
Sim, ele ameniza o calor desse domingo de despedida nada fria.
O faiscar das peles tocantes comove o centro da cidade.
Definitivamente, não há adeuses para nós.

sábado, 29 de agosto de 2009

Ela

Dormir é a melhor coisa da vida. Uma preguiça de abrir os olhos. Deixa eu ficar mais um pouco aqui, nesse aconchego seguro da minha cama.
Fica deprimida quando está com o cabelo sujo? Água, xampu e condicionador antidepressivos, sim...

Nunca tinha se arrependido de nada na vida.
Às vezes, é necessário desistir de uma grande batalha, ainda não perdida, para se manter na guerra.

sábado, 15 de agosto de 2009

Reaverei minha alma e pedirei recibo

Ele se aproximou e foi gentil.
Cedi, comodamente.
Aceitei presentes.
O diabo fez uso capião da minha alma.
Nem notei as partes faltando, sucessivamente.
Ocupada e seduzida pelos seus atrativos.
Dias se passaram. Meses se passaram. Anos...
Quando percebi que ele falava de coisas minhas como suas, reagi.
Ele, enfurecido, mostrou sua verdadeira face.
A realidade me estapeou.
Perplexa. Atônita. Calei.

Sei o preço. Vou trabalhar, pagar e reaver minha alma.
E não acreditar mais em gestos despretensiosos.
Tudo é pretensão e tudo é interesse, quando poder e reconhecimento estão em jogo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Surto


Toim! Abro os olhos. Travesseiro babado. Olho o despertador: 6:30. Cedo. Só preciso acordar às 8. Ela começa: hummm, que dia é hoje? O que tenho de fazer hoje? Vou ver meu palm - Não preciso ver ao lembrar. Ir ao supermercado e comprar o ventilador da casa de praia. Esperar o eletricista me ligar. Vou ver meus e-mails. Checo meus 3 e-mails, meu orkut, o site da revista para ver se meu artigo foi revisado. O que mais... O meu blog. Alguém fez comentários? - a cabeça não pára. Um pensamento atropela o outro.
Dormência na cabeça. Fasciculações nas bochechas. Tensão muscular. Inquietação.
A cabeça não pára.
Vou ao shopping, pago umas contas e faço um depósito. Vai dar para passar o mês sem entrar no cheque especial?
Será que é porque eu estou comendo pouco? Quero emagrecer. Já se foram 7 quilos depois que cheguei há 1 mês. Estou com fome? Não estou com fome. Tomei um café com leite de manhã. E essa tensão e inquieta ação interna constante.
Vou pegar mais um turno para trabalhar no centro médico.
Aceito aquela proposta de trabalho no interior? É longe. Vale a pena?
Acho que vou comprar a ducha elétrica, só 41 reais. Não custa nada.
Faço uma ligação: comprei sua ducha de água quente. Porque eu quis. Já ia comprar.
E eu preciso é de uma enxurrada gelada.
Vai 0,25mg de Rivotril aí?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sombras esguias

Ele se move. Nas sombras. Ou quando você não está olhando. Ou sob uma pele macia e inocente.
Ele se move. Deixa mensagens subliminares. Cria expectativas. Faz gentilezas, só por amizade.
Às vezes, ele é duro nas palavras, mas só para lhe instigar, fazer você crescer.
No seu aniversário, lhe traz flores. Faz você acreditar que é necessária e importante.
Pede favores de última hora. Solicita que abra mão de suas horas e de seus fins de semana. Afinal, é para algo seu também. Atitude generosa.
Ele vê além do que telescópios permitem. Uma águia, exuberante e pomposa.
Deixa claro qual o seu lugar. Lugar amplo, qualquer lugar abaixo dele.
Antecipa seus movimentos, sabe o que lhe atinge e o que lhe move.
Perspicácia diferenciada.
Não o contrarie. Não o desafie. Virará pó.
Virarei pó?

sábado, 8 de agosto de 2009

A mulher barbada

A mulher barbada tem movimentos delicados e traços femininos.
A fêmea barbada dissimula sua voz grave.
Grava as noites iluminadas coloridamente.
Colore o ar por onde passa.
Passa sua roupa de marca à noite.
Marca muitos corpos masculinos.
Masculiniza a seda.

A mulher barbada tem um plano perfeito.
Um assassinato, um corpo, e um suspeito, morto.
Um latrocínio, um policial herói, informado antecipadamente do delito.
O delinquente reaje e PUMMMM.
Um suicídio encomendado e insuspeito.

Tadinha... Ela era tão bonita, tão inteligente. Tinha um futuro tão bonito pela frente. Mas era tão barbada....

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Tempo

Um, dois, três anos. Quanto tempo é necessário? O necessário é suficiente?
Escolhas me separam, me dividem, me laceram. Até quando? Valeu a pena?
Pra que?

Fugi da onda que vinha salgada. Disse que a água tava fria e que não queria molhar a roupa.
Encharquei meu travesseiro de lágrimas e ele se tornou uma pedra insustentável.

Ainda não consegui ocupar o seu lado da cama nem me desfazer das suas fotos. Deveria.
Indiferença me trespassa e me eviscera.

O tempo passa e as gotas salgadas minando dos meus olhos avolumam o Atlântico. A distância aumenta. A lua está logo ali e nem sombra do esverdeado que um dia me fitou.
E nem luz amarela e quente dos sóis de domingo. Nem as nuvens da chapada diamantina se movem.

Tudo inerte, sobretudo a mágoa no peito e a lembrança intrusiva.

Tempo amigo, seja breve enquanto dure.

Hipotermia


Não dou trocados nos sinais. Nem às crianças, nem aos que usam malabares. Moedas não mitigam minha indignação. Moedas não apaziguam minha culpa por viver numa condição privilegiada.
Moedas compram sim, entorpecimento.
Não acredito em bolsas nem em auxílios gratuitos. Paliativos nocivos.
Acredito que um homem que seria PhD em Economia, e entrava em contato com o extremo da pobreza, faria diferença.
Talvez ele tenha perdido o timing, o tempo certo de sair das alturas, do sonho de ajudar a construir um mundo melhor. Demorou para voltar e foi engolido pela frieza que cerca a maioria. A frieza da indiferença. Alguém tem dúvida que isso mata? Mata a humanidade que deveria nos unir e nos fazer empatizar com o outro. Mas, por quê? Se outro é tão diferente de mim.
O outro é negro, inculto, rude, sujo, é pobre. Não tenho culpa disso. Ninguém tem culpa, por isso que tudo permanece gélido e estático.
Hipotermia.
Hipotermia matará a todos nós.

A influenza...

Acordou meio tonto. Levantou, sentou na cama de novo. Uma calor no corpo, um rubor na face.
Tinha que se apressar para a entrevista. Escovou os dentes e olhou-se no espelho: palidez, estava com medo. Aquele emprego era um sonho, deveria ser a premiação pelo investimento de 2 anos de estudo.
Vestiu o único terno que tinha. Um azul marinho um tanto puído. A camisa branca era nova. A gravata, rosa bebê, indicação de um amigo com experiência em entrevistas de emprego.
Comeu um pedaço de mamão, com poder re-laxante, conforme tinha ouvido de sua avó.
Pegou o ônibus que ia pela orla, que evitava engarrafamentos, segundo sua colega de curso.
Pegou um trânsito infernal, mas alertado pelo locutor no rádio.
Chegou 1 hora antes do horário, cedo demais - retrucava a secretária da empresa.
Começava a suar. Tinha o corpo quente e a respiração ofegante.
Outros candidatos iam chegando.
Um rapaz com calça de prega e camisa social sussurrou: Não fala que você irá para outras várias entrevistas. Parece que você não tem foco, um objetivo ao se candidatar para essa empresa.
Ele ouvia tão atento quanto o zumbido permitia.
Sua gravata está frouxa - apontava uma moça de taier verde claro.
Ele não se ouvia mais. Vozes ecoavam distantes e distorcidas: ele desmaiou, não aguentou a pressão, tadinho. Isso acontece muito.

Ócio, tédio, bócio, ódio

O despertador não precisa tocar. As horas não me dizem nada.
Ninguém me espera. Anarquia dos minutos.
Checo meus 4 e-mails umas 10 vezes ao dia. Aguardo uma notícia que me norteie.
Uma ligação que me conecte ao mundo.
Tá na hora de almoçar. O que mais posso fazer? Deito no sofá. Rodo pelos canais da TV.
Monotonia "desinstrutiva".
Dá tempo de criar palavras. De imaginar futuros e de reler passados. De espremer todos os milissegundos do dia.
Escrevo na agenda. Tá tudo ticado. Tudo feito. Bem feito. Quem mandou matar o tempo?

Areia

Afunda. Espalha. Dissipa. Às vezes, queima sob o sol do meio-dia. Corremos.
Transição necessária para o mar. Marcas irregulares, imperfeitas dos pés.
Mudança úmida. Mais sustentação. Mais estabilidade. Rigidez.
Molhado. Chuááááá. Ondas rítmicas. Chuáááá.
Água salgada.

Alívio

Um corte com precisão cirúrgica no antebraço. Transversal, com uma lâmina novinha, aguçada.
Ela se fere lentamente, usufrui ao máximo desses segundos de paz. Sangue brota, sangue escorre. Respira fundo, que alívio... Dói, dói um pouco... Mas relaxa os músculos, descontrai, sublima. Ela sai do seu corpo. O que ela sente no peito lacera mais fundo, e a dor física se reduz a prazer. Recurso que ela usa quando se desespera, quando a mágoa é afiada demais, quando a decepção a faz querer sumir. Para não tirar a própria vida e tolerar mais um dia, ela se corta.
A sessão de psicoterapia é só na semana que vem, a terapeuta não atende ao celular. Não pode evitar, mais uma vez.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pupilas dilatadas


Hoje tive minhas pupilas dilatadas. Não, nada de substâncias psicoativas circulando.
Tem pessoas que vivem de pupilas dilatadas. Não vêem nada à luz. O cômodo é estar sob sombras.
Mas esse buraco negro dos olhos pode engoli-las.
Não quero dilatar minhas pupilas fora dos consultórios de Oftalmologia.
Elas, as pupilas, nos protegem dos excessos e das faltas, de luz. Afinal, não toleramos ver tudo.
Não manipulemos nossas pupilas. Deixemos a sabedoria delas agir por si só. Não nos escondamos da luz.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Desapego

Quando eu deixei de odiar vc? Nunca odiei vc - disse ela com uma frieza dissimulada.
Travesti meu amor com uma roupagem mais confortável, a roupa dos desprezados.
Fingindo para mim que odeio vc, me encho de uma coragem fenomenal ou me esvazio do medo avassalador de não ter mais vc.
Porque desapegar-me de vc é desistir do que há de melhor em mim. E não toleraria isso. Isso me mataria. Viraria um zumbi ambulante.
Se não vai voltar para mim, deixe que eu continue odiando vc e viva, sobreviva.

domingo, 26 de julho de 2009

Molhos, pimentas...


O mercado público de Vancouver expõe molhos, muitos molhos, ervas, condimentos variados, mas vendedores doces e atenciosos.
Quem imaginaria que esse povo de inverno rigoroso gosta tanto de molhos apimentados, e pimenta moída. Tudo vai com pimenta do reino moída! Inusitados, esses canadenses... Será que os mexicanos, os indianos e os baianos estão contra a corrente? Afinal, comida "quente" e cultura acolhedora esquentam. E quem precisa de mais calor vivendo ao sol de fundir a cachola? Deixa o gosto ardido aquecer a língua dos canadenses...

sábado, 25 de julho de 2009

A mentira...

Voltando às relações de troca, só são ruins quando se tem espírito de Madre Tereza e se quer só dar, sem receber, ou quando se tem algum traço psicopático (ou sociopático) e se quer só receber, sem dar. Sim, precisamos dos outros até, e principalmente, para nos construir e criar a nossa própria identidade. O outro é o principal parâmetro de nós mesmos hoje e do “nós” que queremos ser. Por exemplo, eu detesto gente preocupada demais comigo, viu LP? Sabe aquele tipo de pessoa que sempre pede “desculpa” quando nada fez para se desculpar. Aquela amiga que fica se perguntando se o que fez é bom para mim: eu quero comer pizza de aliche, mas se você não gostar eu posso comer a de queijo. Eu sou alérgica, mas posso tomar meu “Polaramine” depois. Isso é uma pessoa boa? Isso é uma pessoa idiota e que acha que sou idiota. Primeiro, se eu não gostar de aliche, eu falarei e pedirei outro sabor ou outra pizza para mim. Segundo, se você comer a pizza de queijo, pode até deixar gravado no celular que eu fui conivente com seu suicídio. Podem até me acusar de homicídio culposo, nesse caso, já que você sabia que estava comendo queijo. Ah, essas pessoas boazinhas, que abrem mão das coisas para nos beneficiar, mais cedo ou mais tarde: vão nos cobrar por aquele ato abnegado, vão comentar com outra pessoa o que fizeram “por nós”, ou, no mínimo, vão usar esse ato como ponto para entrar no céu. Ninguém faz nada de graça... (Olha eu sendo pessimista para alguns, talvez) Há também, os que se utilizam desses atos de doação ou de bondade para justificar viverem na privação financeira ou emocional, são os convenientes resignados ou abnegados.

Abará

O que chama de realidade, considero pessimismo segundo os meus parâmetros na medida em que julga o todo de pessoas ou sociedade por uma parte significativa, mas ainda minoria de pessoas voltadas o suficiente para si a ponto de negligenciar ou prejudicar o vizinho ou o colega e trabalho. Ainda assim, acredito que aquele vizinho que colocou seu lixo à porta de nossa casa é fundamental para a nossa avaliação do mundo. Primeiro, se não o soubermos, dar-nos-emos conta do quanto é desagradável ter o lixo de outrem, com odores desagradáveis dos restos de um desconhecido, à nossa porta. Portanto, só faremos algo semelhante (colocar o lixo na porta de alguém) com dolo, ou seja, com a intenção de magoar ou de agredir. Pois é, um ato “sujo” como esse nos faz mais responsáveis por nossas ações – primeiro ganho, creio eu. Segundo, quando nos mudarmos e tivermos um novo vizinho limpo, asseado e respeitoso, estaremos predispostos a agradá-lo com um bolo de milho nas festas juninas, por exemplo. Afinal, ele poderia, mas não coloca lixo à nossa porta.Por sua vez, o bolo de milho pode fazer com que nosso novo vizinho não dê tanto valor ao fato de que ouvimos ópera aos domingos e ele ache isso o “fim da picada” em termos de gosto musical. Pronto, fomos poupados de um comentário negativo sobre nosso gosto musical. Podem me perguntar e digo: sim, as relações são baseadas em trocas, em conveniência, numa balança dinâmica entre pontos positivos e negativos, ganhos e perdas. As relações saudáveis parecem ter um equilíbrio nessa balança. Isso é ruim? As relações na natureza muitas vezes são assim e estas parecem ser as mais harmônicas já que são regidas de maneira relativamente estável e fixa em um período maior de tempo. Lembram das aulas de Ciências e da relação de comensalismo entre um peixinho que nada com o tubarão e se alimenta de restos de suas presas e ao mesmo tempo limpa seus dentes – bom para um, bom para o outro.

A pimenta...


E, minha querida amiga LP (sem falsidades, já que amo essa moça), não se trata de me incomodar com o que chamou de “realidade” ou de “brincar de Alice”. Primeiro não existe uma “realidade”, existem infinitas realidades possíveis e talvez o número de realidades concretas seja o número de habitantes no mundo num dado segundo. Lembrando que a minha realidade pode se modificar de um segundo para o outro através de uma experiência, em geral envolvendo outra pessoa ou algo produzido por outra pessoa.

O Dendê...

Os outros e as nossas relações são e serão sempre parâmetro para nosso comportamento, nossas emoções e nossas opiniões sobre a vida. Não me refiro obviamente à questão biológica já que o ser humano se constitui no único animal que a natureza privou de instintos suficientes para garantir a vida sem o aprendizado, e portanto sem a presença de outro ser vivo capaz de lhe transmitir algo útil para sobreviver.Refiro-me às questões sociais, comportamentais, cognitivas e especificamente interpessoais. Sim, precisamos dos outros e podemos contar com as pessoas (pelo menos algumas) e, portanto, é imprescindível aprender a viver em sociedade.

E o Erê criou...


Acredito que existe um nível íntimo nosso que é inatingível para as nossas relações humanas, talvez um plano limite entre o espiritual ou divino e o concreto ou humano. Talvez nessa interface sejamos todos sozinhos realmente. Em todos os outros planos, entretanto, estamos acompanhados, bem ou mal, pelo outro e, portanto, não estamos sozinhos. Não vou entrar na questão da vida espiritual ou em outros planetas, pois não seria do escopo desse contraponto, mas poderia...