sábado, 29 de agosto de 2009

Ela

Dormir é a melhor coisa da vida. Uma preguiça de abrir os olhos. Deixa eu ficar mais um pouco aqui, nesse aconchego seguro da minha cama.
Fica deprimida quando está com o cabelo sujo? Água, xampu e condicionador antidepressivos, sim...

Nunca tinha se arrependido de nada na vida.
Às vezes, é necessário desistir de uma grande batalha, ainda não perdida, para se manter na guerra.

sábado, 15 de agosto de 2009

Reaverei minha alma e pedirei recibo

Ele se aproximou e foi gentil.
Cedi, comodamente.
Aceitei presentes.
O diabo fez uso capião da minha alma.
Nem notei as partes faltando, sucessivamente.
Ocupada e seduzida pelos seus atrativos.
Dias se passaram. Meses se passaram. Anos...
Quando percebi que ele falava de coisas minhas como suas, reagi.
Ele, enfurecido, mostrou sua verdadeira face.
A realidade me estapeou.
Perplexa. Atônita. Calei.

Sei o preço. Vou trabalhar, pagar e reaver minha alma.
E não acreditar mais em gestos despretensiosos.
Tudo é pretensão e tudo é interesse, quando poder e reconhecimento estão em jogo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Surto


Toim! Abro os olhos. Travesseiro babado. Olho o despertador: 6:30. Cedo. Só preciso acordar às 8. Ela começa: hummm, que dia é hoje? O que tenho de fazer hoje? Vou ver meu palm - Não preciso ver ao lembrar. Ir ao supermercado e comprar o ventilador da casa de praia. Esperar o eletricista me ligar. Vou ver meus e-mails. Checo meus 3 e-mails, meu orkut, o site da revista para ver se meu artigo foi revisado. O que mais... O meu blog. Alguém fez comentários? - a cabeça não pára. Um pensamento atropela o outro.
Dormência na cabeça. Fasciculações nas bochechas. Tensão muscular. Inquietação.
A cabeça não pára.
Vou ao shopping, pago umas contas e faço um depósito. Vai dar para passar o mês sem entrar no cheque especial?
Será que é porque eu estou comendo pouco? Quero emagrecer. Já se foram 7 quilos depois que cheguei há 1 mês. Estou com fome? Não estou com fome. Tomei um café com leite de manhã. E essa tensão e inquieta ação interna constante.
Vou pegar mais um turno para trabalhar no centro médico.
Aceito aquela proposta de trabalho no interior? É longe. Vale a pena?
Acho que vou comprar a ducha elétrica, só 41 reais. Não custa nada.
Faço uma ligação: comprei sua ducha de água quente. Porque eu quis. Já ia comprar.
E eu preciso é de uma enxurrada gelada.
Vai 0,25mg de Rivotril aí?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sombras esguias

Ele se move. Nas sombras. Ou quando você não está olhando. Ou sob uma pele macia e inocente.
Ele se move. Deixa mensagens subliminares. Cria expectativas. Faz gentilezas, só por amizade.
Às vezes, ele é duro nas palavras, mas só para lhe instigar, fazer você crescer.
No seu aniversário, lhe traz flores. Faz você acreditar que é necessária e importante.
Pede favores de última hora. Solicita que abra mão de suas horas e de seus fins de semana. Afinal, é para algo seu também. Atitude generosa.
Ele vê além do que telescópios permitem. Uma águia, exuberante e pomposa.
Deixa claro qual o seu lugar. Lugar amplo, qualquer lugar abaixo dele.
Antecipa seus movimentos, sabe o que lhe atinge e o que lhe move.
Perspicácia diferenciada.
Não o contrarie. Não o desafie. Virará pó.
Virarei pó?

sábado, 8 de agosto de 2009

A mulher barbada

A mulher barbada tem movimentos delicados e traços femininos.
A fêmea barbada dissimula sua voz grave.
Grava as noites iluminadas coloridamente.
Colore o ar por onde passa.
Passa sua roupa de marca à noite.
Marca muitos corpos masculinos.
Masculiniza a seda.

A mulher barbada tem um plano perfeito.
Um assassinato, um corpo, e um suspeito, morto.
Um latrocínio, um policial herói, informado antecipadamente do delito.
O delinquente reaje e PUMMMM.
Um suicídio encomendado e insuspeito.

Tadinha... Ela era tão bonita, tão inteligente. Tinha um futuro tão bonito pela frente. Mas era tão barbada....

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Tempo

Um, dois, três anos. Quanto tempo é necessário? O necessário é suficiente?
Escolhas me separam, me dividem, me laceram. Até quando? Valeu a pena?
Pra que?

Fugi da onda que vinha salgada. Disse que a água tava fria e que não queria molhar a roupa.
Encharquei meu travesseiro de lágrimas e ele se tornou uma pedra insustentável.

Ainda não consegui ocupar o seu lado da cama nem me desfazer das suas fotos. Deveria.
Indiferença me trespassa e me eviscera.

O tempo passa e as gotas salgadas minando dos meus olhos avolumam o Atlântico. A distância aumenta. A lua está logo ali e nem sombra do esverdeado que um dia me fitou.
E nem luz amarela e quente dos sóis de domingo. Nem as nuvens da chapada diamantina se movem.

Tudo inerte, sobretudo a mágoa no peito e a lembrança intrusiva.

Tempo amigo, seja breve enquanto dure.

Hipotermia


Não dou trocados nos sinais. Nem às crianças, nem aos que usam malabares. Moedas não mitigam minha indignação. Moedas não apaziguam minha culpa por viver numa condição privilegiada.
Moedas compram sim, entorpecimento.
Não acredito em bolsas nem em auxílios gratuitos. Paliativos nocivos.
Acredito que um homem que seria PhD em Economia, e entrava em contato com o extremo da pobreza, faria diferença.
Talvez ele tenha perdido o timing, o tempo certo de sair das alturas, do sonho de ajudar a construir um mundo melhor. Demorou para voltar e foi engolido pela frieza que cerca a maioria. A frieza da indiferença. Alguém tem dúvida que isso mata? Mata a humanidade que deveria nos unir e nos fazer empatizar com o outro. Mas, por quê? Se outro é tão diferente de mim.
O outro é negro, inculto, rude, sujo, é pobre. Não tenho culpa disso. Ninguém tem culpa, por isso que tudo permanece gélido e estático.
Hipotermia.
Hipotermia matará a todos nós.

A influenza...

Acordou meio tonto. Levantou, sentou na cama de novo. Uma calor no corpo, um rubor na face.
Tinha que se apressar para a entrevista. Escovou os dentes e olhou-se no espelho: palidez, estava com medo. Aquele emprego era um sonho, deveria ser a premiação pelo investimento de 2 anos de estudo.
Vestiu o único terno que tinha. Um azul marinho um tanto puído. A camisa branca era nova. A gravata, rosa bebê, indicação de um amigo com experiência em entrevistas de emprego.
Comeu um pedaço de mamão, com poder re-laxante, conforme tinha ouvido de sua avó.
Pegou o ônibus que ia pela orla, que evitava engarrafamentos, segundo sua colega de curso.
Pegou um trânsito infernal, mas alertado pelo locutor no rádio.
Chegou 1 hora antes do horário, cedo demais - retrucava a secretária da empresa.
Começava a suar. Tinha o corpo quente e a respiração ofegante.
Outros candidatos iam chegando.
Um rapaz com calça de prega e camisa social sussurrou: Não fala que você irá para outras várias entrevistas. Parece que você não tem foco, um objetivo ao se candidatar para essa empresa.
Ele ouvia tão atento quanto o zumbido permitia.
Sua gravata está frouxa - apontava uma moça de taier verde claro.
Ele não se ouvia mais. Vozes ecoavam distantes e distorcidas: ele desmaiou, não aguentou a pressão, tadinho. Isso acontece muito.

Ócio, tédio, bócio, ódio

O despertador não precisa tocar. As horas não me dizem nada.
Ninguém me espera. Anarquia dos minutos.
Checo meus 4 e-mails umas 10 vezes ao dia. Aguardo uma notícia que me norteie.
Uma ligação que me conecte ao mundo.
Tá na hora de almoçar. O que mais posso fazer? Deito no sofá. Rodo pelos canais da TV.
Monotonia "desinstrutiva".
Dá tempo de criar palavras. De imaginar futuros e de reler passados. De espremer todos os milissegundos do dia.
Escrevo na agenda. Tá tudo ticado. Tudo feito. Bem feito. Quem mandou matar o tempo?

Areia

Afunda. Espalha. Dissipa. Às vezes, queima sob o sol do meio-dia. Corremos.
Transição necessária para o mar. Marcas irregulares, imperfeitas dos pés.
Mudança úmida. Mais sustentação. Mais estabilidade. Rigidez.
Molhado. Chuááááá. Ondas rítmicas. Chuáááá.
Água salgada.

Alívio

Um corte com precisão cirúrgica no antebraço. Transversal, com uma lâmina novinha, aguçada.
Ela se fere lentamente, usufrui ao máximo desses segundos de paz. Sangue brota, sangue escorre. Respira fundo, que alívio... Dói, dói um pouco... Mas relaxa os músculos, descontrai, sublima. Ela sai do seu corpo. O que ela sente no peito lacera mais fundo, e a dor física se reduz a prazer. Recurso que ela usa quando se desespera, quando a mágoa é afiada demais, quando a decepção a faz querer sumir. Para não tirar a própria vida e tolerar mais um dia, ela se corta.
A sessão de psicoterapia é só na semana que vem, a terapeuta não atende ao celular. Não pode evitar, mais uma vez.